sexta-feira, 20 de março de 2020

É #FAKE que vacina canina mostrada em vídeo se destine ao novo coronavírus humano

Vídeo que tem viralizado nas redes sociais confunde o coronavírus que ataca animais com o novo coronavírus que ataca humanos. Especialistas dizem que a mensagem passada é totalmente falsa.


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Circula nas redes sociais um vídeo em que um homem apresenta uma caderneta de vacinação de seu cachorro com um adesivo da vacina "Vanguard HTLP 5/ CV-L", destinada à prevenção do coronavírus canino. No vídeo, o homem diz: "Esse vírus não é novo, gente. Até meus cães estão imunes a esse vírus. Meu cachorro está mais imunizado do que eu? Eles vêm falar agora que estão fabricando essa vacina? Me poupe. Esse vírus é antigo". A mensagem é #FAKE.

Alexandre Merlo, gerente técnico e de pesquisa aplicada para animais de companhia da Zoetis, fabricante da vacina mencionada no vídeo, explica que o produto não se destina a humanos nem tem a ver com o novo coronavírus.

"O coronavírus da vacina é um coronavírus que é conhecido há bastante tempo. Ele é conhecido há décadas e provoca nos cães um quadro gastrointestinal, principalmente diarreia; às vezes, vômito. Então esse coronavírus que já é conhecido do cão há bastante tempo, embora pertença à mesma família de coronavírus, não tem relação com esse coronavírus novo, que é o Sars coronavírus 2, que acomete humanos. Essa vacina serve só para prevenir a coronavirose canina. Essa vacina não serve para tratar pessoas que têm infecção pelo coronavírus", diz.

A Zoetis divulgou uma nota para desmentir o vídeo.

Rodrigo Cruz, médico veterinário formado na Universidade Federal Fluminense (UFF) e sócio-diretor do Lab&Pet, centro de apoio diagnóstico no Rio de Janeiro, explica a diferença. Ele se utiliza de um diagrama que ajuda a entender as ramificações da família coronavírus.

"Não existe nenhum relato ou proposição de que o novo coronavírus que está causando tudo que vemos hoje seja relacionado com cães e gatos. O coronavírus que ataca cães e gatos é da mesma família que está atacando a população mundial, porém ele corresponde a um outro gênero, que é o gênero alphacoronavírus. O que ataca humanos é o gênero betacoronavírus. Só aí eles já diferem bastante um do outro. Depois do gênero, ele ainda se diferencia em espécies. Há o coronavírus canino e o coronavírus felino. Para humanos, ele vai se dividir no que se apregoa chamar de Sars COV, Mers-Cov e o Sars COV 2, causador da pandemia de Covid 19."


Reprodução


"A grande diferença de parte clínica é que em cães e gatos ele não faz uma manifestação respiratória como está ocorrendo em humanos. No cão, o coronavírus é mais presente em eventos de vômito e diarreia, e habitualmente ataca cães jovens adultos. Nos gatos, o curso da doença é diferente dos cães e dos humanos. Ele é responsável por uma doença conhecida pela sigla PIF (peritonite infecciosa felina), que pode se manifestar por efusões, aparecimento de líquidos em cavidades abdominais ou torácicas."

"Não há nenhuma sinalização até o presente momento de que o coronavírus pode ser transmitido de espécie a espécie como estão falando. A vacina é extremamente segura e a única forma de prevenir as doenças de cães e gatos. São vacinas já testadas, confiáveis, muitas delas vezes produzidas com vírus inativados", afirma Rodrigo Cruz.

A Associação Nacional de Clínicos de Pequenos Animais do Rio de Janeiro fez uma nota para desmentir o conteúdo do vídeo.

"O termo coronavírus é usado para identificar uma variedade de vírus capaz de causar infecções em diferentes espécies. O coronavírus do cão é o CCov, o do gato é o FCoV. O vídeo que está sendo divulgado pelas redes sociais é falacioso porque se refere às cepas de outra família do coronavírus e não à da Covid-19", diz o comunicado.

Leonardo Weissmann, médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a família dos coronavírus não é nova. "Ela é conhecida, é uma família de vírus conhecida desde a década de 1960. Existem centenas de coronavírus que circulam entre animais. Esse novo coronavírus descoberto recentemente ele é apenas o sétimo coronavírus capaz de infectar humanos, conhecidamente. Então, por se tratar de um vírus novo e em comportamento que ainda está sendo estudado, por esse motivo é que ainda não temos vacina específica para esse coronavírus", diz.

Weissmann mostrou um quadro que explica os sete tipos de coronavírus que podem infectar humanos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reforça que "não há evidências de que animais de companhia/animais de estimação, como cães ou gatos, possam transmitir o novo coronavírus".

A entidade diz ainda que, até o momento, não há nenhuma vacina e nenhum medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a Covid-2019. "As pessoas afetadas devem receber cuidados para aliviar os sintomas. Pessoas com doenças graves devem ser hospitalizadas. A maioria dos pacientes se recupera graças aos cuidados de suporte."

"Possíveis vacinas e alguns tratamentos medicamentosos específicos estão sob investigação. Eles estão sendo testados através de ensaios clínicos. A OMS está coordenando esforços para desenvolver vacinas e medicamentos para prevenir e tratar a Covid-19", informa a entidade.

"As maneiras mais eficazes de proteger a si e aos outros são limpar frequentemente as mãos, cobrir a tosse com a curva do cotovelo ou tecido e manter uma distância de pelo menos um metro das pessoas que estão tossindo ou espirrando."

(Infomações do G1)

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