segunda-feira, 6 de abril de 2020

Meia brasileiro em Belarus admite medo: "Todo mundo parou. Por que não aqui?"

Foto: Divulgação - Camisa 10 do Dinamo Minsk em ação

Danilo Campos, do Dinamo Minsk, relata apreensão em única liga europeia ainda em atividade: "A gente tem que olhar para eles e seguir o mesmo passo"


Há algumas semanas, Danilo Campos, meia do Dinamo Minsk, de Belarus, tem tido uma rotina angustiante. Ele vai aos treinos e toma banho quando chega. Evita o contato com todos. Chega em casa, toma banho, reforça com álcool em gel. Vai aos jogos, mantém a cautela, entra em campo e tenta esquecer tudo que se passa ao redor enquanto está jogando. Mas a dúvida sempre permanece: alguém próximo, ou ele mesmo, foram infectados?

Danilo é brasileiro, naturalizado belga, tem 30 anos, e atua no único país europeu onde o futebol não parou. O campeonato de Belarus concluiu sua terceira rodada neste domingo. Ele foi titular nas três partidas do seu clube. No meio da próxima semana, jogos das semifinais da Copa do país serão disputados. Danilo, e mais sete brasileiros que atuam na liga, não escondem a apreensão.

“Todo mundo parou. Espanha, Inglaterra, Itália... se as principais ligas pararam, com jogadores que ganham salários absurdos, por que não aqui também? Todo mundo abrindo mão. A gente tem que olhar para eles e seguir o mesmo passo”, desabafou.

Danilo é filho do ex-atacante maranhense Wamberto, que fez longa carreira no Ajax e em alguns clubes belgas. O meia do Dinamo Minsk nasceu em São Luís, mas nunca atuou no Brasil. Está no atual clube desde o início do ano passado e tem contrato apenas até o final de junho. E espera por uma solução em breve. De preferência, a paralisação do torneio.

– A gente fica meio nervoso, fica com pé atrás, com medo. Não sabe o que pode acontecer amanhã. Hoje está tudo funcionando. Amanhã, não sei. Pode ser como na Rússia, que não pode sair na rua. Eu até sei falar russo, mas não consigo ler. Então, tenho que sair para ir ao mercado. É difícil.

Os jogos em Belarus seguem com público, mas com restrições. Apenas pessoas do mesmo grupo familiar podem permanecer juntas. Mede-se a temperatura de todas as pessoas que entram no estádio. Mas nada ameniza a sensação de insegurança de alguns jogadores, como reforça Danilo.

– Já faz umas duas semanas que dizem que vão adiar, mas há sempre uma desculpa. Agora dizem que fecharam contratos com a TV. A gente vê o que vai acontecendo no resto do mundo e, querendo ou não, fica preocupado. Temos família. Eles ficam preocupados com o que pode acontecer. Não é algo para brincar. Todos os países aqui em volta pararam – opina Danilo.

Dados atualizados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, indicam que Belarus tem 562 casos da doença e oito mortes. Apesar das reclamações públicas de alguns jogadores, a Federação de Futebol do país não indica que vá parar em um futuro breve.

– Confiamos completamente no nosso sistema de saúde. Compreendemos que em alguns países a situação é muito grave, mas, na realidade, em Belarus não é tão crítica para suspender o torneio – declarou Serguéi Zhardetski, presidente da federação, à agência EFE.

Danilo diz que os estrangeiros estão mais preocupados que os bielorrussos. O país, ex-nação soviética com 9,5 milhão de habitantes, é governado desde 1994 pelo mesmo presidente: Aleksander Lukashenko. O discurso do político é de que o coronavírus não é tão grave.

Enquanto o campeonato segue, o meia brasileiro do Dinamo Minsk tenta, ao menos, aproveitar a maior visibilidade que o torneio tem no momento. A liga ganhou 10 novos contratos de televisão, especialmente para alguns países vizinhos. Mas Danilo admite que é difícil não afastar o medo e o receio quando está em campo.

– Depois que você entra (em campo), a gente esquece. Mas até entrar em campo, tem um procedimento. E você fica a semana inteira pensando se vai parar ou não, vê quantas pessoas morreram ao redor do mundo. Vai para casa, para o treino, e tenta evitar o máximo de contato. Não pode ir para a academia. As crianças não estão indo para a escola. Mudo muito a rotina. A gente se preocupa. Não tem como.

Globo Esporte

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