quinta-feira, 18 de abril de 2024

Meia Matheus Pereira, do Cruzeiro, faz forte relato sobre momentos complicados que passou em sua vida

Divulgação 

Um dos destaques do Cruzeiro, o meia Matheus Pereira, deu uma forte entrevista em carta publicada pelo site “The Players Tribune” nesta quinta-feira (18). O jogador disse que reencontrou a alegria de jogar e viver ao chegar no Cruzeiro. O jogador falou de temas muito fortes. Ele fez um grande relato sobre momentos complicados que passou em sua vida. 

Veja trechos da carta: 

"As pessoas podem dizer que hoje eu estou bem. Sim, eu estou. Ou que estou melhor. Melhor do que antes, sem dúvida. Mas sofri bastante até me recuperar. É difícil para os outros entenderem porque ninguém está dentro de mim. E, sinceramente, eu não faço ideia de como as coisas chegaram ao ponto de eu desejar me jogar do 19° andar de um hotel em Abu Dhabi. Acho que quase tudo passa pelo futebol, não sei. Os meus vazios, as coisas que eu fazia para preenchê-los, a minha queda, minha salvação. Passei dois anos no Sporting só treinando. Não podia jogar nas competições por ser um imigrante ilegal. É uma condição desconfortável essa, de medo e insegurança. Me juntei à rodinha da maconha e passava muito, muito tempo chapado. Também bebia um monte e gastava o dinheiro que sobrava em baladas. Depois me sentia um trapo, um miserável. Me culpava de um jeito insuportável ao imaginar a tristeza dos meus pais se eles soubessem. Mas mal bati de volta em Lisboa e tive que me mudar outra vez. Alemanha. Fui emprestado pro Nuremberg. Eu não falava alemão, inglês, francês, nenhum outro idioma além do português. Então foi o período que eu vivi mais calado na minha vida. Tá bom, eu sei que é difícil de entender pra quem olha de fora. Nem eu mesmo consigo explicar. Só posso dizer o que eu sentia: a tristeza e o fracasso corroendo cada pedaço do meu corpo. Era o tempo da pandemia de Covid, e os clubes resolveram segurar os investimentos. Apareceu uma proposta absurda do Al-Hilal, da Arábia Saudita, e eu me mudei mais uma vez. Fiquei com medo do que essa nova mudança faria com a minha cabeça, mas era muito boa financeiramente. Conversei com a minha esposa e decidimos aceitar. Não demorou pro declínio psicológico reaparecer. Nem sempre existe uma causa específica, acho que é mais o conjunto de uma vida inteira, mas, morando em Riad, eu senti falta da minha igreja. Pedi pra sair do Al-Hilal sem saber aonde ir. Naquela altura, eu não queria ir pra lugar nenhum. Eu não queria nada, não tinha mais prazer em nada, não prestava pra nada. Eu era um nada. Já tinha desistido de jogar futebol. O clube era o Al-Wahda, que colocou a gente pra morar num hotel de luxo, no apartamento do 19° andar. Até hoje a minha esposa diz que a vista lá de cima era linda. Eu não lembro de ter olhado algum dia pra ela. Pra mim era tudo escuridão e desespero. Eu estava cansado de lutar. Estava cansado de ficar cansado. Eu queria me livrar de tanto sofrimento que eu nem entendia de onde vinha. Tinha noite que eu bebia três garrafas de vinho. Treinei bêbado várias vezes e fiquei outras tantas internado no hospital com hipocalemia, tomando soro pra tratar a falta de potássio no sangue, porque eu não me alimentava, só ingeria álcool. Até que um dia eu abri a janela do nosso apartamento com vista espetacular e só não me joguei porque a minha esposa foi mais rápida. Ela me agarrou, me puxou pra dentro e a gente ficou um tempão chorando abraçado ali no chão da sala. Se podia dar certo, se havia alguma esperança, o Cruzeiro era o meu único caminho. Juntei as minhas coisas em Portugal e, ansioso, pela primeira vez fiz uma grande mudança por livre e espontânea vontade. No Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece bobagem, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer. E isso piora demais uma situação que já está ruim. A gente não sabe mais quem é. Eu tô aqui de prova. A terapia me ajudou demais, e Deus me mostrou uma luz no fim do túnel. No meu caso, a luz das estrelas, que me guiaram na escuridão e recolocaram brilho nos meus olhos. Era o futebol me estendendo a mão — sim, mais uma vez. Eu sempre fui cruzeirense. Antes que tudo acontecesse, quando o futebol era só uma alegria imensa e verdadeira, eu brincava de bola querendo ser o Alex, querendo vencer a Tríplice Coroa, mesmo que todos os meus familiares torcessem para o rival. Se podia dar certo, se havia alguma esperança, o Cruzeiro era o meu único caminho. Juntei as minhas coisas em Portugal e, ansioso, pela primeira vez fiz uma grande mudança por livre e espontânea vontade", disse o jogador. 

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