sexta-feira, 17 de maio de 2019

UFRJ detecta vírus mayaro, 'primo' do chikungunya, no Rio de Janeiro

Foto: Reprodução / CDC
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) detectou a presença do mayaro no Estado do Rio de Janeiro, vírus da mesma família do chikungunya, que causa sintomas similares e tem um potencial ainda maior de provocar uma epidemia.

Isso porque, diferentemente do chikungunya, foi demonstrado em laboratório que ele também pode ser ser transmitido pelo pernilongo comum (Culex), além do Aedes aegypti. O vírus também infecta o mosquito Haemagogus, o mesmo da febre amarela, podendo proliferar-se em matas, além do meio urbano.

A presença do vírus no Rio de Janeiro foi confirmada por meio de exame molecular, o chamado PCR, em pacientes com suspeita da doença na epidemia de chikungunya de 2016. Foram confirmados três casos em Niterói.

"A atual epidemia de chikungunya no Rio de Janeiro está terrível, com muitos casos e muitos casos graves. Em muitos deles, não se consegue fechar o diagnóstico de chikungunya. Será que o mayaro está por trás disso?", questiona o médico virologista Amílcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, que identificou o vírus.

O Estado do Rio de Janeiro registra 26 mil casos de chikungunya, de acordo com o último boletim, de 14 de maio, da Secretaria Estadual da Saúde.

O mayaro foi descrito pela primeira vez em 1955 em Trinidad e Tobago e, no ano seguinte, em Belém do Pará, no Brasil. Segundo o pesquisador, desde então têm sido registrados casos esporádicos no Brasil, como seis casos em Goiânia seis anos atrás. "A maior epidemia de marayo ocorreu na Venezuela em 2010", afirma.

No Rio de Janeiro é a primeira vez que ele parece. "O que mais nos preocupa é que detectamos esse vírus na epidemia de chikungunya de 2016 e conseguimos identificar esses três casos. Nossa pergunta é: nessa epidemia atual de chikungunya, será que ele está aqui? É preciso começar a investigar".

O médico virologista explica que o mayaro não é mais grave que o chikungunya. Os sintomas são dor nas articulações, febre e cansaço. "Na Venezuela, houve casos de encefalite relacionadas ao mayaro, mas, de uma forma geral, não é mais grave que o chikungunya", diz.

Segundo ele, o primeiro passo, neste momento, é realizar uma força-tarefa para verificar se o mayaro continua provocando casos humanos nessa atual epidemia. "Não é fácil diagnosticá-lo. Na sorologia, pode ser confundido com chikungunya, por isso a exigência de testes moleculares", explica. "O problema é que só se consegue fazer isso na fase aguda da doença".

O Aedes egypti transmite dengue, zika e chikungunya, no momento, no Brasil. É preto com listras brancas, que na verdade são escamas, e dispõe de um desenho no tórax que lembra uma lira (instrumento musical). Voa baixo e por isso costuma picar pés e tornozelos, principalmente no início da manhã e final da tarde, quando a temperatura está mais amena. Próprio de áreas tropicais, não resiste a baixas temperaturas. Sua principal fonte de alimentação é o sangue humano. É um mosquito urbano que se prolifera em áreas com grande continente populacional

O Aedes albopictus não transmite doenças no Brasil, até o momento. Estudos comprovaram que a espécie carrega o vírus da febre amarela, mas não tem capacidade de transmiti-la. O mosquito também tem potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya. Na Ásia e na América do Norte, ele transmite essas doenças. Ele está distribuído em áreas rurais da grande maioria dos Estados brasileiros. Apresenta o mesmo hábito alimentar do primo, Aedes egypti, com maior atividade no início da manhã e no final da tarde. A diferença é que não se alimenta preferencialmente de sangue humano, mas do animal que encontrar pela frente.

O Sabethes, junto ao Haemagogus, é o principal transmissor da febre amarela atualmente no Brasil. É um mosquito silvestre, que vive em região de mata e costuma ficar na copa das árvores - por essa razão, pica preferencialmente macacos. Coloca seus ovos no oco das árvores. É diurno, picando do meio-dia até o pôr do sol. Chama a atenção pelo colorido metalizado, com tons de violeta, roxo, azul e verde.

Os flebotomíneos, popularmente chamados de mosquito-palha, cangalhinha e birigui, transmitem a leishmaniose. São pequenos, de cor clara e pousam de asas abertas. Têm hábitos noturnos. A transmissão da doença ocorre quando fêmeas do mosquito picam uma pessoa ou um animal infectado, como cães, gatos e cavalos, e picam alguém saudável, transmitindo o protozoário Leishmania chagasi

Os Anopheles transmitem a malária. A doença é transmitida por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium, um tipo de protozoário. Esses mosquitos são mais abundantes ao entardecer e ao amanhecer. Também podem picar durante a noite, mas em menor quantidade. É frequente na região amazônica. Apenas as fêmeas transmitem a malária. Elas precisam de sangue para o desenvolvimento de seus ovos. Os machos se alimentam apenas de substâncias com açúcar, como néctar e seivas de plantas

O Culex quinquefasciatus é o pernilongo comum. Não é um grande transmissor de doenças, mas seu potencial para isso ainda está sendo investigado. No ano passado, a Fiocruz realizou um estudo em Recife, área de incidência da zika, e constatou que o Culex também tinha capacidade de transmitir a doença. Nessa mesma região, o pernilongo transmite o parasita que causa a elefantíase, única área do Brasil endêmica para essa doença. Ele tem hábitos noturnos, se reproduz em águas poluídas e está presente no meio urbano de regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo

https://noticias.r7.com/saude/ufrj-detecta-virus-mayaro-primo-do-chikungunya-no-rio-de-janeiro-17052019

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