sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Diretor da CBF, Gustavo Perrella é investigado por Comissão de Ética devido a contrato com o Cruzeiro

Foto: Divulgação/ALMG - Gustavo Perrella (detalhe)
O presidente da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, Carlos Renato de Azevedo Ferreira, determinou a abertura de processo administrativo para investigar a conduta do diretor de Projetos Estratégicos da CBF, Gustavo Perrella.

Conselheiro nato do Cruzeiro, Gustavo recebeu R$ 190 mil, ano passado, para fazer uma consultoria, enquanto ocupava posto na Confederação. Auditoria feita no clube, pela Kroll, não encontrou documentos que comprovassem os serviços prestados. Já o cartola afirma que realizou o trabalho. O Cruzeiro, por sua vez, garante que é “senso comum entre diversos funcionários” que Perrella “participava de reuniões e se envolvia em processos”.

O caso é considerado por advogados como “conflito de interesse”, passível de punição pelo Código de Ética da entidade. Questionada sobre o negócio do cartola com o Cruzeiro, a CBF afirmou que "não possui informações para fazer qualquer consideração a respeito do tema".

A investigação foi aberta há duas semanas. A presidente da Câmara de Investigação, Gladys Regina Vieira Miranda, comanda o chamado processo administrativo ético. Gustavo Perrella deverá ser ouvido pelos integrantes do órgão nos próximos dias. Se a Câmara de Investigação pedir a punição do dirigente, o caso será apreciado pela Câmara de Julgamento. O código prevê sanções que variam de advertência até o banimento do futebol.

No despacho de dez páginas, o presidente da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro citou trechos do discurso de posse do presidente da CBF, Rogério Caboclo, para justificar a decisão de investigar a conduta de Gustavo. O ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo lembrou que Caboclo disse, na ocasião, que sua gestão seria "construída sobre os pilares da integridade e da eficiência" e que aplicaria "com toda a energia" o Código de Ética.

A investigação ocorrerá em sigilo e deverá ser concluída até o final do ano. A comissão é considerada um órgão de controle independente e externo da CBF.

O caso de Gustavo Perrella deve ser enquadrado no capítulo três do Código de Ética da CBF que trata sobre "vantagens indevidas". A apuração vai analisar se o dirigente violou o artigo 11 do Código, que diz:

Art. 11. As pessoas vinculadas a este Código, especialmente os dirigentes e diretores, devem evitar conflitos de interesse particulares ou de terceiros com os da respectiva entidade, comprometendo-se a revelar circunstâncias de potencial conflito
Parágrafo Único. Entende-se por interesses particulares ou de terceiros qualquer possível vantagem que resulte em benefício econômico próprio ou de terceiros."
O Código de Ética foi criado em 2017 pela CBF para tentar resgatar a imagem da entidade, abalada após o escândalo de corrupção promovido pelos dirigentes do continente em 2015. Três ex-presidentes da CBF (Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo del Nero) foram acusados pelo FBI de receber propina.

A consultoria ao Cruzeiro

Em 28 de fevereiro do ano passado, a empresa criada por Gustavo Perrella foi contratada pelo clube para "prestação de serviços na reestruturação na área financeira". A empresa é a B.I Sports Produções e Serviços Eireli, registrada três dias antes da assinatura do contrato.

Segundo relatório da Kroll, auditoria contratada para fazer uma devassa nas contas do clube, o Cruzeiro não apresentou a comprovação dos serviços prestados. A B.I. Sports, segundo o próprio sócio, Gustavo Perrella, foi encerrada após a prestação dos serviços ao Cruzeiro.

Pelo acordo, a B.I ganhou duas parcelas de R$ 95 mil em pagamentos realizados entre 10 de abril e 24 de maio.

Segundo o documento de duas páginas assinado pelo Cruzeiro com o dirigente, a empresa foi contratada para promover "a melhor eficiência dos processos administrativos financeiros e na gestão de contratos" e auxiliar também "na gestão financeira dos contratos com a Minas Arena", concessionária do Mineirão.

Gustavo Perrella afirmou que prestou serviços de intermediação do Cruzeiro junto à Minas Arena e cumpriu com todas as obrigações contratuais. Questionado se poderia enviar à reportagem relatórios feitos por ele sobre a situação financeira do clube, ele informou que somente o clube poderia autorizar o envio, por se tratarem de informações confidenciais. Mas o ex-deputado apresentou uma troca de emails em que demonstra que realizou articulações pelo clube mineiro.

O clube, por sua vez, disse que a atual gestão não tem arquivado nenhum relatório da consultoria prestada, pois os relatórios “certamente ficaram em posse da antiga diretoria”. Já sobre a negociação com a Minas Arena, Gustavo Perrella encaminhou à nossa apuração uma troca de mensagens com diretores do Cruzeiro sobre o assunto.

A Minas Arena, em contato com a Globo, confirmou que foi apresentada ao dirigente como “interlocutor das dívidas do Cruzeiro” e que, por um tempo, ele participou de reuniões com a empresa.

Gustavo Perrella disse que não viu conflito ético em ter sido contratado pelo Cruzeiro sendo diretor da CBF e que desconhece a investigação aberta pela Comissão de Ética.

Nota oficial do Cruzeiro

O Cruzeiro informa que consta em seus arquivos atuais o termo de resilição, no qual a antiga diretoria afirma os trabalhos prestados e valores quitados, e o Contrato de Prestação de Serviços, que possui cláusula de confidencialidade a respeito do seu conteúdo.

Já os relatórios de prestações de serviços certamente ficaram em posse da antiga diretoria, aos quais não temos acesso.

É senso comum entre diversos funcionários, que estavam no Cruzeiro à época, que Gustavo Perrella de fato participava de reuniões e se envolvia em processos e compromissos de interesse do Clube no período vigente do contrato.


https://globoesporte.globo.com/futebol/times/cruzeiro/noticia/diretor-da-cbf-gustavo-perrella-e-investigado-por-comissao-de-etica-devido-a-contrato-com-o-cruzeiro.ghtml

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