quarta-feira, 6 de maio de 2020

Em carta emocionante à Inter de Milão, Adriano Imperador fala de sua infância, família e trajetória

Reprodução/Twitter
Longe dos gramados no momento atual, o atacante Adriano, carinhosamente chamado de Imperador ou até mesmo de Didico, escreveu uma carta emocionante à sua ex-equipe, Internazionale de Milão, da Itália. Nela (carta) o jogador conta detalhes minuciosos de sua infância, sua vida em família, trajetória no futebol, até chegar ao clube da "Velha Bota" (Itália). Adriano relata que antes de ser o atacante goleador que era, jogava de lateral. Na emocionante carta ele revela ainda que uma das coisas que mais o abalou foi a perca de seu pai.

Abaixo o que escreveu Adriano à Inter:

Felicidade é uma coisa simples. É o gosto da pipoca que minha tia vendia na estrada. É a cor da poeira dos campos da Vila Cruzeiro. Short e pés descalços. Esse sempre foi meu uniforme. Assim é a vida de uma criança que cresce na favela."

Eu tinha 10 anos e, em uma tarde de repente ouvi o ruído de balas na rua. Uma delas se alojou na cabeça do meu pai, Almir. Ele foi atingido por acaso, por acidente. Se você mora em uma favela, não vê muito futuro, mas sempre tentei mirar um pouco mais, graças ao futebol.

Eu já jogava no futsal do Flamengo, mas os dias eram longos e difíceis, com minha mãe Rosilda no hospital e eu em casa com a vó Wanda. Eu queria ajudar, então passei a engraxar sapatos. O dia em que meu pai Almir voltou do hospital foi um dos mais felizes da minha vida.

Sabe meu pé esquerdo? Eu treinei desde criança. Sempre quebrava coisas em casa, deixava minha mãe louca. Por isso ela decidiu me levar ao Flamengo. Não tínhamos dinheiro, não podíamos pagar a escolinha. Mas minha mãe começou um trabalho extra vendendo doce na rua para pagar.

Acredita que eu jogava de lateral? Foi difícil, mas eu não podia desistir. Já em 2000, como atacante, veio o Torneio Rio-São Paulo. Estreei contra o Botafogo, depois pegamos o São Paulo. Perdíamos por 1 a 0, eu entrei, marquei 1 gol e dei 3 assistências. Vencemos por 5-2.

A ligação da Itália logo chegou. Não estava nervoso nem preocupado: entrei no avião para Milão, cheio de alegria e entusiasmo. Minha maior jornada começou, a que eu esperava e sonhava. E sim, o começo foi um sonho.

A melhor lembrança? Em agosto de 2001, enfrentei o Real Madrid no Bernabéu. Um sonho. Entrei e joguei como na Vila Cruzeiro: driblei, dei rolinho e sofri uma falta. Lembra do pé esquerdo que deixava minha mãe louca? Eu o apresentei ao mundo ali. A bola teria ido a 170 km/h.

No entanto, chegaram más notícias. Agosto de 2004, Bari. Eu estava no ônibus e meu celular tocou: “O papai Almir morreu". Nunca senti uma dor tão terrível na minha vida. Só eu sei o quanto sofri. A morte do meu pai deixou um vazio irreparável na minha vida.

Voltei à Europa e foi na Suíça que vi uma luz em meio aos dias sombrios. Contra o Basel, ganhei uma dividida, a segunda, passei por 2 marcadores, depois passei pelo goleiro e fiz o gol com o pé direito. Dei toda a energia que tinha para dedicar o gol ao papai Almir.

Ainda me lembro dos abraços dos companheiros. A Inter estava muito perto de mim em um dos períodos mais difíceis da minha vida. Moratti era como um pai. Não apenas ele, mas também Zanetti e outros. Sou extremamente grato a todos. Levarei essas memórias comigo para sempre.

O Imperador. No começo, achava que não gostavam de mim. Mas foi bom descobrir o carinho dos torcedores. Sempre me senti em casa em Milão: meu amor pela Inter é interminável. Imediatamente me tornei um Nerazzurri: meu gol no último minuto nos 3 a 2 no Derby é uma prova disso.

Lembro-me de tudo: de driblar metade do time para fazer o gol contra a Udinese, as maiores vitórias, as derrotas, os triunfos, aquela bomba contra a Roma na final da Copa da Itália, tudo. Meu último gol com a camisa da Inter? Contra o AC Milan no Derby, é claro!

A Inter é uma grande parte de mim, está entrelaçada com a minha vida, iluminando os momentos mais bonitos e me acompanhando nos mais tristes e difíceis. Ainda hoje, quando penso em Milão, no San Siro e na camisa nerazzurra, sinto vontade de cantar aquela música.

Sempre que a ouvia eu ficava feliz, me fazia sentir em casa, como um de vocês, um de nós: 'Enquanto gritamos e aplaudimos, por este grande jogador que vocês temem, todos levantamos diante do nosso 'Brasiliano'. Bata palmas, porque só nós temos ADRIANO!

Forza Inter!

Adriano

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