
Com a fachada mantida, o estádio abriu espaço para o supermercado
(Foto: Beto Oliveira/Jornal Correio de Uberlândia)
As arquibancadas que agora presenciam o entra e sai de pessoas em um supermercado, instalado sobre o gramado do Estádio Juca Ribeiro, preservam a história dos tempos mais gloriosos do Uberlândia Esporte Clube (UEC). Bons tempos em que o espetáculo futebolístico era compartilhado com o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, a seleção soviética do goleiro Lev Yashin e o histórico Cosmos, de Nova York, que realizaram as partidas mais calorosas já vistas pela região mineira.
Atualmente alugado para uma rede de supermercados, o estádio guarda parte da história do futebol mineiro. Nos anos do “Furacão da Mogiana”, quando o competitivo clube das décadas de 60 a 80 mandava seus jogos ali, o cronista esportivo Odival Ferreira teve o privilégio de contribuir com essa bagagem cultural.
- Passei parte da minha vida de cronista cobrindo as partidas no Juca. Equipes da elite e até internacionais jogavam de igual para igual em amistosos com o Uberlândia, que lotavam o estádio. Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Vasco passaram por aqui e marcaram a época de ascensão – relembrou.
DISPUTA POLÍTICA, DIVISÃO DE CAMPO
A história do primeiro estádio do Verdão iniciou paralelamente à fundação do clube. Segundo Odival Ferreira, em 1922, a equipe ainda era chamada de São Pedro de Uberabinha e dividia a direção com dois grupos políticos: Partido Republicano Municipal (Cocões) e o Partido Republicano Mineiro (Coiós).
Terreno para a construção do estádio foi cedido por fazendeiro (Arquivo Público de Uberlândia)
Em virtude da rivalidade nos campos de futebol, eles haviam decidido que a cada partida haveria o revezamento das bandas de música, responsáveis por animar a torcida. Aconteceu que, durante um jogo no campo da extinta Associação Esportiva Uberabinha, os grupos se desentenderam. Cocões, donos do campo, queriam que a sua banda tocasse, mas, como o dia era dos Coiós, o desentendimento foi inevitável.
- Os Coiós saíram de lá muito nervosos e decidiram fundar um novo clube. O fazendeiro e empresário Gil Alves cedeu o terreno na Vila Operária (local onde foi fundado o estádio) e liderou o novo time ao lado de Agenor Bino. Aí eles convidaram o Tito Teixeira, que era do grupo rival, para ser o presidente do clube. Só depois que a cidade mudou o nome é que virou UEC – contou Odival.
MOMENTOS MARCANTES
Na memória privilegiada de Ferreira, há dois marcos: as cabines de imprensa improvisadas e a arquibancada de madeira coberta, com capacidade para 600 pessoas. Depois foi notada a necessidade de uma boa reforma na estrutura, até para que se disputasse a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Então foram construídas as quatro arquibancadas de cimento, vestiários, as lojas que ficam sob os degraus e contribuiriam para a renda do time. A capacidade do estádio foi potencializada e de lá o Uberlândia mandou seus jogos até o fim da década de 70.
Em virtude da rivalidade nos campos de futebol, eles haviam decidido que a cada partida haveria o revezamento das bandas de música, responsáveis por animar a torcida. Aconteceu que, durante um jogo no campo da extinta Associação Esportiva Uberabinha, os grupos se desentenderam. Cocões, donos do campo, queriam que a sua banda tocasse, mas, como o dia era dos Coiós, o desentendimento foi inevitável.
- Os Coiós saíram de lá muito nervosos e decidiram fundar um novo clube. O fazendeiro e empresário Gil Alves cedeu o terreno na Vila Operária (local onde foi fundado o estádio) e liderou o novo time ao lado de Agenor Bino. Aí eles convidaram o Tito Teixeira, que era do grupo rival, para ser o presidente do clube. Só depois que a cidade mudou o nome é que virou UEC – contou Odival.
MOMENTOS MARCANTES
Na memória privilegiada de Ferreira, há dois marcos: as cabines de imprensa improvisadas e a arquibancada de madeira coberta, com capacidade para 600 pessoas. Depois foi notada a necessidade de uma boa reforma na estrutura, até para que se disputasse a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Então foram construídas as quatro arquibancadas de cimento, vestiários, as lojas que ficam sob os degraus e contribuiriam para a renda do time. A capacidade do estádio foi potencializada e de lá o Uberlândia mandou seus jogos até o fim da década de 70.
O estádio aumentou sua capacidade para atender ao Campeonato Brasileiro (Foto: Arquivo Público de Uberlândia)
O amistoso com a seleção da União Soviética marcou a inauguração do novo Juca Ribeiro, em 1966. Com o “Aranha Negra” Yashin no gol, os representantes russos vinham do torneio que também inaugurou o Mineirão, em Belo Horizonte. Lá venceram o Cruzeiro por 1 a 0 e o Galo por 6 a 1. Em Uberlândia, saíram com a vitória por 2 a 0.
Para quem fez a cobertura de quase todos os confrontos desde 1968, talvez seja difícil isolar uma ou outra imagem. Mesmo com um pouco de hesitação, o cronista, que hoje escreve um livro sobre a história do clube verde e branco, destacou duas partidas que para ele foram históricas. A primeira foi do supertime de 1968, que venceu o Atlético-MG por 4 a 0 com jogadores como o goleiro Renato, Paulo, Dunga, Jair, Neiriberto, Carlinhos, Jorge, Hamilton, Quinzito, Fazendeiro, Ferreira e Reis.
Dez anos depois, ainda no Juca, o amistoso eletrizante com o Botafogo do técnico Zagallo.
- Estava 2 a 2 e o Uberlândia quebrou uma invencibilidade que o Botafogo vinha mantendo por 40 partidas. Com o jogo em 2 a 2 e um pênalti marcado em favor do Uberlândia, com o segundo tempo para terminar, Zagallo tirou o time dele de campo. Eu estava lá – relembrou.
TRANSIÇÃO DE ESTÁDIOS
Peça fundamental na Taça CBF, principal título conquistado pelo Uberlândia Esporte em 1984, o goleiro Moacir Adolfo Borges participou da transição de estádios do clube. Assim que o Estádio Municipal João Havelange, conhecido como Parque do Sabiá, foi construído, os jogos passaram a ser mandados de lá, apenas treinos e alguns amistosos ainda eram realizados na Vila Operária.
- O Juca Ribeiro sempre foi a nossa casa porque continuamos treinando no estádio. Mas o Parque do Sabiá passou a ser uma arma, porque o gramado era mais fofo e os adversários cansavam muito rápido – justificou a preferência.
A estreia do goleiro na equipe, em 1981, se deu em amistoso com o América de São José do Rio Preto. A torcida ensandecida do UEC ainda comparecia ao Juca Ribeiro e presenciou a vitória por 1 a 0 do Furacão da Mogiana, sob os pitacos do técnico Vicente Lage.
DOS ANOS DE OURO À ERA SUPERMERCADISTA
Antes de dar adeus definitivamente aos gramados da região central da cidade, o Uberlândia Esporte foi campeão da Segunda Divisão do Mineiro de 1963, campeão mineiro do interior em 1970. A ida ao Parque do Sabiá rendeu a Segunda Divisão do Brasileiro (Taça CBF), outro título de campeão do Mineiro do Interior (2003) e a Taça Minas Gerais de 2003.
O amistoso com a seleção da União Soviética marcou a inauguração do novo Juca Ribeiro, em 1966. Com o “Aranha Negra” Yashin no gol, os representantes russos vinham do torneio que também inaugurou o Mineirão, em Belo Horizonte. Lá venceram o Cruzeiro por 1 a 0 e o Galo por 6 a 1. Em Uberlândia, saíram com a vitória por 2 a 0.
Para quem fez a cobertura de quase todos os confrontos desde 1968, talvez seja difícil isolar uma ou outra imagem. Mesmo com um pouco de hesitação, o cronista, que hoje escreve um livro sobre a história do clube verde e branco, destacou duas partidas que para ele foram históricas. A primeira foi do supertime de 1968, que venceu o Atlético-MG por 4 a 0 com jogadores como o goleiro Renato, Paulo, Dunga, Jair, Neiriberto, Carlinhos, Jorge, Hamilton, Quinzito, Fazendeiro, Ferreira e Reis.
Dez anos depois, ainda no Juca, o amistoso eletrizante com o Botafogo do técnico Zagallo.
- Estava 2 a 2 e o Uberlândia quebrou uma invencibilidade que o Botafogo vinha mantendo por 40 partidas. Com o jogo em 2 a 2 e um pênalti marcado em favor do Uberlândia, com o segundo tempo para terminar, Zagallo tirou o time dele de campo. Eu estava lá – relembrou.
TRANSIÇÃO DE ESTÁDIOS
Peça fundamental na Taça CBF, principal título conquistado pelo Uberlândia Esporte em 1984, o goleiro Moacir Adolfo Borges participou da transição de estádios do clube. Assim que o Estádio Municipal João Havelange, conhecido como Parque do Sabiá, foi construído, os jogos passaram a ser mandados de lá, apenas treinos e alguns amistosos ainda eram realizados na Vila Operária.
- O Juca Ribeiro sempre foi a nossa casa porque continuamos treinando no estádio. Mas o Parque do Sabiá passou a ser uma arma, porque o gramado era mais fofo e os adversários cansavam muito rápido – justificou a preferência.
A estreia do goleiro na equipe, em 1981, se deu em amistoso com o América de São José do Rio Preto. A torcida ensandecida do UEC ainda comparecia ao Juca Ribeiro e presenciou a vitória por 1 a 0 do Furacão da Mogiana, sob os pitacos do técnico Vicente Lage.
DOS ANOS DE OURO À ERA SUPERMERCADISTA
Antes de dar adeus definitivamente aos gramados da região central da cidade, o Uberlândia Esporte foi campeão da Segunda Divisão do Mineiro de 1963, campeão mineiro do interior em 1970. A ida ao Parque do Sabiá rendeu a Segunda Divisão do Brasileiro (Taça CBF), outro título de campeão do Mineiro do Interior (2003) e a Taça Minas Gerais de 2003.
O estádio na época da construção do supermercado (Foto: Beto Oliveira/Jornal Correio de Uberlândia)
De propriedade do clube mineiro, o estádio ficou desativado por muitos anos e, a partir de 2010, passou a ser alugado por uma rede de supermercados, que preservou parte das arquibancadas. O contrato é vigente por 30 anos, mas pode ser suspenso a qualquer momento caso seja de interesse do clube. A parceria garante ao UEC 45% do empreendimento além de 1% do que for arrecadado por mês na empresa.
O faturamento auxilia as despesas do clube que - no ano em que se completam três décadas do título nacional e disputa o Módulo II do Mineiro - pretende subir no campeonato.
- Nós, daquela época, não gostaríamos que tivessem passado 30 anos para o UEC ganhar o seu devido destaque novamente. Não podemos deixar de lado a tradição, mas passou da hora de vermos, de fato, o retorno do Furacão - finalizou Moacir, aos 60 anos.
De propriedade do clube mineiro, o estádio ficou desativado por muitos anos e, a partir de 2010, passou a ser alugado por uma rede de supermercados, que preservou parte das arquibancadas. O contrato é vigente por 30 anos, mas pode ser suspenso a qualquer momento caso seja de interesse do clube. A parceria garante ao UEC 45% do empreendimento além de 1% do que for arrecadado por mês na empresa.
O faturamento auxilia as despesas do clube que - no ano em que se completam três décadas do título nacional e disputa o Módulo II do Mineiro - pretende subir no campeonato.
- Nós, daquela época, não gostaríamos que tivessem passado 30 anos para o UEC ganhar o seu devido destaque novamente. Não podemos deixar de lado a tradição, mas passou da hora de vermos, de fato, o retorno do Furacão - finalizou Moacir, aos 60 anos.
Globo Esportes